sexta-feira, 27 de novembro de 2015

Voltar... a dançar com o olival...



Não sei porque tão teimosamente irracional te procuro...
entre o frio e a geada,
na magia do despertar!

Imagem: Despertar da Natureza. Nov. 2015, Portugal.

E continuo a procurar,
no tempo parado,
para contigo dançar,
ao sol também...

Imagem: Olival. Nov. 2015, Portugal.

Volto para te abraçar,
e entre teus braços inteiros,
um abraço cheio te dar.

E me recordas,
e me acolhes,
apesar do teu cansaço,
e aquelas velhas memórias
começas a relembrar:


Imagem: Oliveira (1). Nov. 2015, Portugal.

 Quando criança,
em mim te balouçavas,
e entre as minhas frias saias,
caías e te levantavas,
e tanto, tanto...
que a gente voava, voava!" 

Será por isso que te procuro?
Para que não me deixes esquecer,
ande por onde andar,
de quem sou, 
de como é bom voltar!
Te amar e abraçar.


Imagem: Oliveira (2). Nov. 2015, Portugal.

E a tua, e a nossa, história contar:


Imagem: Azeitona em Oliveira. Nov. 2015, Portugal.


"Entre tantos caminhos,
campos e flores...
E figos, de todas as cores...
E tantos sabores e odores!

Entre tantos...
velhos e novos rostos,
tantos trevos e
tantas folhas...

Com minhas mãos te encontro...
E subindo escadas pra te apanhar,
suavemente te enlaço, penteio,
colho... e me enlevo...

E te ouço,
 levemente caindo,
colorindo tua saia,
verde, reluzente...

E em pausa,
enquanto como...
Tu esperas
que te leve a casa...

Pra cirandarmos ao serão,
e te joeirar,
de novo...
quando te limpo e escolho.

Então te junto, azeitona,
pra depois te transportar
a lagar,
que te há-de laborar.

E te acompanho...
pesando, lavando,
andando e rolando...
E te aprendo a transformar.

Até separares o teu bagaço,
e sem o duro do fruto,
ardes a iluminar...
E o que sobra da tua massa,
em estufa, ainda a valorizar.

E pra ti olho, azeite!
Te vejo límpido.

Rolando até mim,
te vejo voltar...
sabendo à alma
das gentes, 
ares, flores,
campos e tempos,
que te ajudaram a criar.

E em azeite a brilhar...
oliveira,
a história de ti...
da gente,
pra contar."


Imagem: Azeite. Nov. 2015, Portugal.

Um abraço a todos,
aos que continuam a caminhar,
a dar aos pés, a dar os braços,
para dançar com o olival.

\o/
Aos que connosco caminharam,
ajudaram, compartilharam,
se renovaram,
e com a alma cheia ficaram.
Nós, também.

Obrigada 

_/\_

Maria





Mais: Sobre a Oliveira
"Árvore de uma riqueza simbólica muito grande: paz, fecundidade, purificação, força. Em todos os países europeus e orientais, a oliveira reveste-se de significados semelhantes.
Na Grécia, era consagrada a Atena (deusa da fecundidade e da sabedoria, protectora das crianças, inspiradora das artes e dos trabalhos da paz...) e, em Roma, a Júpiter (a divindade do céu, da luz diurna...) e a Minerva (deusa das artes e da sabedoria...).
Nas tradições judaico-cristãs, era símbolo da paz, do ouro e do amor.
No Islão, é a árvore central, o eixo do mundo, símbolo do Homem universal. O azeite, porque extraído dessa árvore, aparece associado à luz, que alimenta as lâmpadas, e à pureza.
De forma semelhante, no esoterismo ismaelita, a oliveira no cimo do Sinai é uma representação do Imã: é simultaneamente o eixo, o Homem universal e a fonte de luz.
No Japão, simboliza a amabilidade, bem como o êxito nos estudos e nos empreendimentos civis ou guerreiros: árvore da vitória.
Segundo uma lenda chinesa, a madeira de oliveira neutralizaria alguns venenos e peçonhas: o que lhe confere um valor tutelar. (...)" (In Dicionário dos Símbolos. J. Chevalier; A. Gheeerbrant. Lisboa: Ed. Teorema, 1994; pp.486-487)

"A cultura da oliveira, «a mais prestigiada árvore mediterrânea», e o trabalho da extracção do azeite conhecem-se na bacia do Mediterrâneo desde a IV dinastia egípcia, altura em que se importou azeite da Palestina e da Síria, e, no final da sua história, da Grécia. Já então, além dos usos alimentares, o azeite era amplamente utilizado em unguentos, medicina, perfumaria e inumações.
Em Portugal o nome da árvore é de origem latina, mas o nome do fruto é de raiz árabe. Jorge de Alarcão diz que «não é seguro terem sido os romanos os introdutores da oliveira no nosso território, é muito possível que esta árvore tenha sido trazida pelos Cartagineses, se não mesmo por Fenícios». A preferência alimentar dos romanos deve ter incrementado o seu cultivo «sem contudo a propagarem para o norte pois os lusitanos utilizavam a manteiga como gordura». Mas é certamente aos romanos que devemos a maior parte da herança dos sistemas e métodos usados na extracção do azeite. (...)
A oliveira começou, como todas as plantas cultivadas, pela simples utilização da variedade bravia, esparsa e afogada no matagal mediterrâneo. A sua longevidade conta-se por milénios (...) Aceita-se que na Turquia continuam em produção árvores plantadas pelos romanos. O olival é assim a cultura mais estável que existe (...) Para os gregos é uma árvore não plantada pela mão do homem, germe de si mesmo nascido, que ninguém ousaria arrancar pelas próprias mãos porque olham para ela os deuses de olhos claros (Sófocles, Édipo em Colono).
Acomoda-se «a quase todos os terrenos, dentro da área que se poderá considerar o clima mediterrâneo clássico, até um limite em altitude que se fixa, em Portugal, em torno dos 700m». Nos primórdios da sua expansão, ela aparece associada a culturas mimosas nas cinturas das povoações; partilha depois espaços agrários mais amplos com outras culturas; e expande-se e imiscui-se por surgências rochosas e terrenos esqueléticos, testemunhando um dos mais surpreendentes e épicos desafios que o nosso homem do campo travou, num passado recente, com as condições adversas do meio natural. (...)
Hoje, essa nobilíssima árvore aparece despojada de cargas simbólicas e cultiva-se ou arranca-se conforme ditames de racionalidade económica de um presente em franca mutação. Nesse processo de desvalorização, Orlando Ribeiro viu o «símbolo do declínio de uma civilização agrária». (In Tecnologia tradicional do azeite em Portugal. Benjamim Pereira. Centro Cultural Raiano/C.M. Idanha-a-Nova: Julho, 2005; pp.13-139)

Oliveira, árvore que aprendeu a partilhar e a conviver em paz com todas as outras, a árvore que estamos a perder e a deixar ficar para trás. E com ela, nós também.
Maria, Novembro de 2015