quinta-feira, 29 de outubro de 2015

Agosto, Agostinho...


Foi tempo de nascentes, 
de voltar ao gaspacho,
ao banho santo de 29,
acompanhados do belo luar,
e ao restolho, a lembrar
que é preciso nascer de novo,
recomeçar...


Rio Mira, junto a Castro da Cola; Ourique, Alentejo.

Andámos por nascentes de Milfontes, 
acompanhando o Mira, a serpentear, 
de sul para norte, desde a Serra do Caldeirão,
até ao mar, no Atlântico, desaguar...


"Onde o Mira se faz ao mar". Praia das Furnas, Vila Nova de Milfontes. Costa Vicentina, Sudoeste Alentejano.

Acompanhámos a Lua a crescer...
enquanto o dia se despedia,
azul, cor da terra,
e a alma, cheia, dizia:
amanhã, amanhã 
é outro dia...

Quarto Crescente de Agosto, Alentejo.

Preparámos e compartilhámos
um refrescante gaspacho!
E o saboreámos,
à sombra...
enquanto histórias contávamos,
e nos lembrávamos,
dos cerros e das gentes,
dos momentos, vividos, 
tão cheios de presentes...

Almocinho de gaspacho alentejano.

 E o restolho, ali tão perto!...
A lembrar que é preciso
"morrer e nascer de novo"...

Campos de restolho, planície alentejana.


E não sei quantos mergulhos demos!
para o banho virtuoso.
Mas cumprimos o ritual
do banho santo de 29,
neste oceano caloroso!
Mar de Atlas, salgado,
aos SSSSS, extenso,
impetuoso...

Oceano Atlântico (1).

Vimos o luar nascer
em cheio levantando ondas,
e um mar chão se transformando
a nossos pés lembrando
a força da atracção...

Oceano Atlântico (2).

Não sei se ficámos mais santos,
mas de alma cheia, guardámos,
a tradição de 29,
em nosso revigorado coração.


Oceano Atlântico (3).

Acompanhados do cheio luar...

Super Lua Cheia de 29 de Agosto.

E uma doce, eterna, recordação.

_/\_




Mais sobre o Banho Santo de 29: 

Celebração do dia de São João da Degola. Este ritual, herdado das antigas populações rurais do Algarve, traduz-se num banho de mar, tomado a 29 de Agosto para «curar diversas enfermidades» pois acreditava-se que a água neste dia era benta, boa para reumatismos e outras doenças. Mandava a tradição 29 mergulhos com a cabeça debaixo de água para que o banho fosse virtuoso.
As crianças e os menos afoitos eram incentivados a mergulhar. As mulheres vestiam combinações de flanela e os homens ceroulas. Crianças, rapazes e raparigas despiam-se para um banho animado com tropelias e mergulhos. Após o banho, juntavam-se todos, como uma grande família, à volta da merenda, da boa disposição e da música.
Também os rebanhos de cabras e ovelhas, oriundos de regiões distantes, desciam à praia acompanhados dos pastores e eram molhados e lavados um a um, apesar dos saltos aflitos...
Como relata Fernando Galhano em 1949, com especial relevo no livro «Festividades Cíclicas em Portugal» de Ernesto Veiga de Oliveira, trata-se de uma tradição muito antiga e de grande expressão na região.
Esta tradição chegou a estender-se das praias do concelho de Aljezur (Carrapateira, Bordeira e Odeceixe), no barlavento, aos areais de Lagos, Praia da Rocha, Quarteira e Manta Rota, no outro extremo do Algarve.
(In Carrapateira, História e Tradições. J. A. Sarmento; J. M. Marreiros (1993). Núcleo de Naturais da Freguesia da Bordeira, Casa do Algarve.)

E ainda se mantém!

"O banho santo era tradição
vinha sempre muita gente
em ceroulas e combinação
tomavam banho na água quente.

Mesmo que estivesse fria
tomavam banho também
diziam que era nesse dia
que o banho fazia bem."

(In "Banho Santo cumpre tradição")

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